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Pacote anunciado pelo governo deve liberar R$ 1,2 trilhão aos bancos

Medidas têm o objetivo de evitar falta de recursos e facilitar concessão de crédito. Volume é quase 10 vezes maior do que o movimentado na crise de 2008. Presidente do BC diz que não há risco de quebra de instituições

MB
Marina Barbosa, Rosana Hessel
postado em 24/03/2020 06:00

Medidas têm o objetivo de evitar falta de recursos e facilitar concessão de crédito. Volume é quase 10 vezes maior do que o movimentado na crise de 2008. Presidente do BC diz que não há risco de quebra de instituiçõesO Banco Central (BC) anunciou, nesta segunda-feira (23/3), um pacote de medidas para injetar dinheiro no mercado em uma tentativa de mitigar o ambiente de incerteza provocado pela pandemia do novo coronavírus. Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o pacote soma R$ 1,216 trilhão, ou 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB), incluindo ações que ainda estão em estudo. Comparado aos R$ 117 bilhões aplicados no socorro aos bancos durante a crise financeira global de 2008 e 2009, que corresponderam a 3,5% do PIB, o montante é quase 10 vezes maior.

;O BC está absolutamente tranquilo em relação ao que estamos atravessando;, afirmou Campos Neto. Ele reforçou que o ;arsenal é grande;, inclusive, para lidar com a desvalorização do real, e descartou o risco de quebra de bancos, como ocorreu no passado. ;Em 2008, a incerteza era se o banco ia quebrar ou não. Agora, não falamos disso;, garantiu.

Apesar do volume expressivo das medidas, a confiança no país piorou, lembrou o economista José Luis Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB). A curva de risco subiu novamente para os títulos públicos com vencimento a partir de 2023, variando 1,5% até 5,9%. ;Parece que não funcionou;, disse.

Uma das ações anunciadas, ontem, foi a redução temporária, de 25% para 17%, da parcela dos depósitos compulsórios de longo prazo dos bancos, recursos que ficam parados no BC. A medida vale até dezembro e a expectativa é injetar R$ 68 bilhões no mercado de crédito. Em janeiro, o compulsório havia caído de 31% para 25%, o que propiciou a liberação de R$ 135 bilhões. Somadas, as duas decisões podem representar expansão de R$ 203 bilhões em empréstimos. Contudo, esse montante não significa dinheiro na veia da economia, porque é preciso haver demanda pelos recursos.

;No momento, esse tipo de medida é ineficaz para a atividade econômica, e só vai fazer sentido quando a pandemia for controlada;, avaliou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Ele lembrou que um dos termômetros do risco de calote do governo, o Credit Default Swap (CDS) para os títulos públicos de cinco anos, voltou a subir, passando de 335 pontos, na sexta-feira, para 361 pontos, ontem.

Outra medida foi a liberação de empréstimos com lastro em debêntures de empresas, com potencial de R$ 91 bilhões. Na avaliação do ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, é uma ação perigosa, pois o contribuinte pagará a conta se a empresa quebrar no meio da crise. ;O BC está aceitando dívida privada como garantia. Isso é muito arriscado;, alertou. Para Sanchez, o BC tenta criar fluxo para um problema que já existe, de R$ 20 bilhões de debêntures encalhadas. ;Ele está buscando fazer o mercado girar;, disse.

Foi criado, ainda, o Depósito a Prazo com Garantias Especiais (DPGE) que, pelas estimativas do BC, permitirá uma expansão da concessão de crédito em R$ 200 bilhões.

Campos Neto também citou a flexibilização das regras das Letras de Crédito Agrícola (LCA), que pode ter impacto de R$ 2 bilhões na liquidez dos bancos. Entre as medidas em estudo, está a concessão de empréstimos com garantia em Letras Financeiras, que poderia liberar R$ 670 bilhões. ;Uma nova redução do compulsório e o direcionamento de créditos para pequenas e médias empresas também estão em análise;, disse.

O presidente do BC disse esperar que as medidas ajudem a reduzir os juros para o consumidor. Contudo, o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Oliveira, não acredita que isso ocorra. ;As medidas amenizam os impactos da crise e dão mais dinheiro aos bancos. Mas não vão ser suficientes para baixar o spread, porque os juros estão subindo e o risco de crédito é maior nesse cenário de incerteza. Com a recessão, o desemprego vai se agravar elevando a inadimplência, que é um dos itens que compõem o custo do dinheiro; explicou.

O economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, elogiou o pacote do BC. ;São medidas úteis e importantes, que devem fornecer alguma ajuda ; mas o principal ponto não é amparar o sistema em si, e, sim, como levar liquidez às pequenas e médias empresas; afirmou. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, avaliou que as medidas estão no caminho certo. ;Temos que ter uma reserva de liquidez para conseguir suportar possíveis aumentos da inadimplência;, disse.

Clientes podem adiar pagamentos

Clientes dos cinco maiores bancos do país ; Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander ; podem suspender por até 60 dias o pagamento das parcelas de financiamentos de imóveis e de veículos, entre outros. A medida, em resposta à crise provocada pelo novo coronavírus, foi determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A Caixa permite que financiamentos com até duas parcelas em atraso sejam congelados. Já para os outros bancos, os cidadãos devem estar com todas as prestações pagas até o momento. Para solicitar o adiamento, os clientes podem acionar os canais de relacionamento remoto das instituições, sem precisar comparecer às agências.

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